Introdução ao Space Sequencer
Quando pensamos em um programa de computador, pensamos em algo pronto, fechado. Você clica, ele abre e, uma vez dentro, você o usa para fazer suas coisas. Vistos assim, os programas são feitos para funcionar sempre da mesma forma, executando sempre as mesmas funções, dentro de uma mesma interface. Se tudo funciona, ficamos felizes; se não funciona, xingamos.
O Blender muda de forma radical essa concepção ao transformar a lógica de como o próprio software funciona. Um dos bons exemplos disso é que a interface do programa – ou, em outras palavras, tudo o que vemos ao mexer nele – é criada no momento em que o botamos para rodar.
Seria como se tivéssemos um terreno cheio de materiais espalhados e um portão de entrada. Ao abrirmos aquele portão, todas as colunas, tijolos, ladrilhos e vidros que estavam esparsos começariam a se movimentar rapidamente e, de forma quase mágica, colocar-se-iam em seu devido lugar. De repente, temos não mais um terreno vazio, mas uma casa.
Pelo mesmo exemplo, se mudássemos os materiais que temos à mão ou o projeto arquitetônico, mudaríamos o modo como a casa se apresentaria aos nossos olhos, ao terminar de montar-se. O Blender funciona exatamente assim. Ao iniciar-se, carrega uma série de scripts em Python que ditarão como a interface será montada. Se alterarmos o código desses scripts, mais especificamente de um arquivo chamado Space Sequencer, teremos uma nova interface – no nosso caso, mais adaptada à edição de vídeos.
Como mudar para a interface modificada
O primeiro passo para instalar a interface modificada no Blender é baixá-la. Clique no link abaixo para ir para a Área de Downloads do site.
Última atualização dos complementos | Ir para a área de downloads |
Uma vez baixado, o arquivo com a nova interface (space_sequencer.py) está dentro de uma pasta zipada, junto com os outros complementos do Blender Velvets. Abra-a como faria com qualquer arquivo .zip e extraia-os para algum lugar de sua preferência (por exemplo, na Área de Trabalho).
Observação: Nas imagens e textos abaixo, note que a versão do Blender usada é a 2.72 (destacada em negrito no texto). Este número mudará conforme novas atualizações do programa sejam publicadas.
Para Linux e Windows, siga a estrutura de pastas como na imagem ao lado e encontre a chamada “bl_ui”.
Para quem usa MacOS, é preciso clicar com o botão direito do mouse no ícone do Blender e escolher “Mostrar conteúdo do pacote” para abrir a pasta oculta. Nela, o caminho será algo como “Contents > MacOS > 2.72 > scripts > startup > bl_ui” (veja esta imagem para um exemplo de MacOS com Blender 2.73).
As diferenças da nova interface
Em um primeiro momento, parecem poucas as mudanças entre as duas interfaces. Entretanto, quanto mais você usar o Blender como editor de vídeo, mais elas farão sentido. Na interface original, é preciso entrar constantemente no painel de propriedades das trilhas para mexer nas propriedades de um efeito, fazer animações de movimento no quadro, inserir quadros-chave (keyframes), alterar o volume ou a pan de um áudio. Como todos esses controles estão espalhados, é preciso navegar e buscá-los frequentemente. O Blender também controla a extensão da linha do tempo via a janela chamada “Timeline”, o que não faz sentido quando queremos inserir ou retirar trechos inteiros de nossa linha narrativa a todo instante.
A interface modificada busca melhorar a fluidez do processo como um todo, eliminando, na prática, a necessidade de usar o painel de propriedades ligado à linha do tempo e focando os controles relevantes na janela de monitoramento. Usada em conjunto com o complemento Velvet Goldmine, o controle de extensão da linha do tempo passa a ser feito via atalhos de teclado, aumentando de forma expressiva a velocidade e naturalidade com que o processo é feito – e ele é feito muitas e muitas vezes, mesmo em projetos simples de edição.
O painel de propriedades do monitor de vídeo também traz um botão bem útil, que é o de definir o tamanho de saída do render (Set Render Size). Com ele, é possível selecionar uma das faixas de vídeo na linha do tempo e definir a resolução de todo o projeto de acordo com ela. Tal função é especialmente útil para projetos de edição em proxy, quando temos de oscilar entre fazer renders intermediários, à definição baixa dos proxies (SD, ou standard definition), e renders em resolução total, normalmente a 720p ou 1080p. Note que a informação sobre a resolução do projeto como um todo é exibida na própria janela de monitoramento. Tudo isso faz com que nos foquemos no projeto de edição, sem ter de recorrer à janela de “Properties”, que é a responsável por definir tudo isso.
Abaixo, estão apontadas as principais diferenças entre as duas interfaces, mas é só usando o programa que elas ficarão evidentes. As chances são de que se você usar a interface modificada e os complementos Blender Velvets, não conseguirá a voltar a usar o Blender sem antes instalá-los.
Os botões relevantes (1) ficam na janela “Timeline” do Blender, que controla a extensão da linha do tempo do projeto de edição. Isso faz com que sejam necessárias duas janelas, esta e a “Video Sequence Editor” (2) para manipular algo que deveria ser controlado apenas pela última. As propriedades das trilhas (3) também estão dispersas e super povoadas, tornando sua navegação demorada (4).
Os botões relevantes e um novo informativo sobre a duração da linha do tempo (1) ficam agora na janela “Video Sequence Editor”, fazendo com que a janela “Timeline” (2) não precise mais ser usada. Os controles de extensão da linha do tempo serão feito pelos atalhos do Velvet Goldmine. As propriedades relevantes das trilhas (3) passaram para a janela de monitoramento (ver abaixo), sendo possível ocultá-la. Tudo isso abre espaço para uma linha do tempo maior.
A tela de monitoramento tem espaços pouco aproveitados tanto na base (1) como no painel de propriedades (2).
Com as alterações, a base da tela de monitoramento (1) passa a exibir informações sobre a resolução e FPS do projeto e o tamanho, em porcentagem, do render. O painel de propriedades (2) centraliza e ordena os controles mais relevantes para cada tipo de trilha (vídeo, áudio, imagem, efeitos) e exibe informações novas, como a duração e localização das faixas na linha do tempo em SMPTE. Os modificadores (Strip Modifiers), para tratamento de imagem, também estão aqui, ajudando na hora de finalizar o vídeo.
Um uso típico da interface modificada em um projeto de edição. Sem a janela de “Timeline” e sem o painel de propriedades, a linha do tempo do projeto ganha um espaço de manobra considerável, enquanto a janela de monitoramento ganha destaque ao centralizar os controles principais relacionados às trilhas. As informações sobre as trilhas e sobre os atributos principais do projeto ficam visíveis a todo momento.